Em 1980 estourou a corrida do ouro no garimpo de Serra Pelada, no Pará. No começo da febre, mais de 25 mil homens se amontoavam numa grande cratera e chegavam a tirar uma tonelada de ouro por mês. Foi necessária uma organização que envolveu as polícias Federal e Militar do Pará. Ao mesmo tempo, a Caixa Econômica Federal tentava manter a exclusividade na compra do nobre metal, pagando, porém apenas 60% do valor de mercado.
A corrida atraiu não só profissionais que disputavam cada metro quadrado em busca da riqueza rápida, mas também lavradores, médicos, motoristas, padres, engenheiros e boiadeiros. Liderados pelo major do Exército Sebastião Curió amigo do então Presidente Figueiredo e que anos antes fora o responsável por dizimar a guerrilha do Araguaia, os garimpeiros se organizaram até onde foi possível. Para não haver confusão foi proibida a entrada de bebidas e mulheres. Ali todos eram aventureiros que se submetiam à muitos sacrifícios: suportavam o intenso calor e respiravam a constante poeira de monóxido de ferro que exalava do garimpo, altamente prejudicial aos pulmões. Isso sem falar no total desconforto dos barracos improvisados. Mas eles não ligavam e trabalhavam dia e noite na esperança de ficar ricos da noite para o dia.
Diante da prosperidade do local e de fortunas que eram feitas e perdidas da noite para o dia, um inimigo poderoso observava a rotina dos trabalhadores, a Companhia Vale do Rio doce que almejava a concessão da exploração de ouro no local. Em meio a uma guerra de ações judiciais tanto por parte da Vale, como dos garimpeiros, as tensões aumentavam a cada dia. O ódio pela Vale do Rio Doce tem explicação: todos os anos a companhia fechava a jazida, com ordem judicial. Por diversas vezes, a CRVD interditou a cava para tentar trocar a extração manual pela mecânica. Mas os garimpeiros voltavam e invadiam a área. O garimpo, cada vez menos lucrativo para os cofres públicos, foi sendo abandonado pelo governo, transformando-se em problema social. Contra o descaso das autoridades, 4 mil trabalhadores fecharam, em dezembro de 1987, a ponte da PA-150 sobre o Rio Tocantins, a dez quilômetros de Marabá. Os manifestantes pediam caminhões, tratores e a remoção de 8 milhões de metros cúbicos de terra que estava impedindo a garimpagem segura na Serra Pelada. Estava desenhado ali mais um massacre brasileiro protagonizada pela policia militar do Pará. Uma tropa de 400 policiais, destacados para desobstruir a ponte passaram a disparar fuzis e metralhadoras, além de bombas de gás lacrimogêneo. A ponte tinha sido fechada dos dois lados pela tropa que cercara os trabalhadores. Horas depois, a PM do Pará informou que desbloqueara a ponte e causara a morte de quatro garimpeiros. Passados dois dias, a Polícia Federal anunciou o desaparecimento de 79 pessoas. Os garimpeiros que sobreviveram ao massacre voltaram naquela mesma madrugada à Serra Pelada, que nunca mais traria grandes alegrias. Em 1992, durante o governo Collor, o domínio sobre a área foi transferido para a Vale, que passou a destruir casas com tratores e a fechar buracos de garimpos ao redor da cava. Muitos garimpeiros ficaram quase oito meses presos por formação de quadrilha na tentativa de conter a Vale. Em 2002, o decreto de Collor caiu, mas a cava já tinha se tornado um lago onde muitas crianças hoje tomam banho.
Em volta do enorme buraco, existe um povoado de 6 mil moradores, que já foi campeão mundial em casos de hanseníase e está no topo do ranking brasileiro de aids e tuberculose. Debaixo de tanta miséria, no entanto, descansam mais de 280 toneladas de ouro, além de reservas de paládio, platina e cobre, quantidade 10 vezes maior que a retirada hoje no Brasil inteiro a cada ano. No último mês de março, o governo finalmente decidiu quem tem direito de exploração da área: venceram os garimpeiros. Este mês, todos os que fizeram parte daquele formigueiro humano há 25 anos podem se inscrever para participar do racha da fortuna ali escondida. Hoje, quase três décadas depois anos depois, o povoado de Serra Pelada mais parece uma cidade fantasma. A grande cratera inundada pela água e se transformou num enorme lago. Muitos ficaram ricos, mas quase todos perderam tudo, pois como num jogo de apostas, não souberam a hora de parar e investiram tudo que ganharam para tentar tirar mais ouro. Deste sonho ficaram as imagens e as lembranças que não se repetirão, pois o ouro que ainda resta no fundo do lago só poderá ser retirado com máquinas.
Referência Bibliográfica:
A’b’Sáber,Aziz Nacib-A Amazônia: Do discurso à práxis-2ª ed-São Paulo:Editora da Usp,2004.
Post de Ezequiel Silva
A corrida atraiu não só profissionais que disputavam cada metro quadrado em busca da riqueza rápida, mas também lavradores, médicos, motoristas, padres, engenheiros e boiadeiros. Liderados pelo major do Exército Sebastião Curió amigo do então Presidente Figueiredo e que anos antes fora o responsável por dizimar a guerrilha do Araguaia, os garimpeiros se organizaram até onde foi possível. Para não haver confusão foi proibida a entrada de bebidas e mulheres. Ali todos eram aventureiros que se submetiam à muitos sacrifícios: suportavam o intenso calor e respiravam a constante poeira de monóxido de ferro que exalava do garimpo, altamente prejudicial aos pulmões. Isso sem falar no total desconforto dos barracos improvisados. Mas eles não ligavam e trabalhavam dia e noite na esperança de ficar ricos da noite para o dia.
Diante da prosperidade do local e de fortunas que eram feitas e perdidas da noite para o dia, um inimigo poderoso observava a rotina dos trabalhadores, a Companhia Vale do Rio doce que almejava a concessão da exploração de ouro no local. Em meio a uma guerra de ações judiciais tanto por parte da Vale, como dos garimpeiros, as tensões aumentavam a cada dia. O ódio pela Vale do Rio Doce tem explicação: todos os anos a companhia fechava a jazida, com ordem judicial. Por diversas vezes, a CRVD interditou a cava para tentar trocar a extração manual pela mecânica. Mas os garimpeiros voltavam e invadiam a área. O garimpo, cada vez menos lucrativo para os cofres públicos, foi sendo abandonado pelo governo, transformando-se em problema social. Contra o descaso das autoridades, 4 mil trabalhadores fecharam, em dezembro de 1987, a ponte da PA-150 sobre o Rio Tocantins, a dez quilômetros de Marabá. Os manifestantes pediam caminhões, tratores e a remoção de 8 milhões de metros cúbicos de terra que estava impedindo a garimpagem segura na Serra Pelada. Estava desenhado ali mais um massacre brasileiro protagonizada pela policia militar do Pará. Uma tropa de 400 policiais, destacados para desobstruir a ponte passaram a disparar fuzis e metralhadoras, além de bombas de gás lacrimogêneo. A ponte tinha sido fechada dos dois lados pela tropa que cercara os trabalhadores. Horas depois, a PM do Pará informou que desbloqueara a ponte e causara a morte de quatro garimpeiros. Passados dois dias, a Polícia Federal anunciou o desaparecimento de 79 pessoas. Os garimpeiros que sobreviveram ao massacre voltaram naquela mesma madrugada à Serra Pelada, que nunca mais traria grandes alegrias. Em 1992, durante o governo Collor, o domínio sobre a área foi transferido para a Vale, que passou a destruir casas com tratores e a fechar buracos de garimpos ao redor da cava. Muitos garimpeiros ficaram quase oito meses presos por formação de quadrilha na tentativa de conter a Vale. Em 2002, o decreto de Collor caiu, mas a cava já tinha se tornado um lago onde muitas crianças hoje tomam banho.
Em volta do enorme buraco, existe um povoado de 6 mil moradores, que já foi campeão mundial em casos de hanseníase e está no topo do ranking brasileiro de aids e tuberculose. Debaixo de tanta miséria, no entanto, descansam mais de 280 toneladas de ouro, além de reservas de paládio, platina e cobre, quantidade 10 vezes maior que a retirada hoje no Brasil inteiro a cada ano. No último mês de março, o governo finalmente decidiu quem tem direito de exploração da área: venceram os garimpeiros. Este mês, todos os que fizeram parte daquele formigueiro humano há 25 anos podem se inscrever para participar do racha da fortuna ali escondida. Hoje, quase três décadas depois anos depois, o povoado de Serra Pelada mais parece uma cidade fantasma. A grande cratera inundada pela água e se transformou num enorme lago. Muitos ficaram ricos, mas quase todos perderam tudo, pois como num jogo de apostas, não souberam a hora de parar e investiram tudo que ganharam para tentar tirar mais ouro. Deste sonho ficaram as imagens e as lembranças que não se repetirão, pois o ouro que ainda resta no fundo do lago só poderá ser retirado com máquinas.
Referência Bibliográfica:
A’b’Sáber,Aziz Nacib-A Amazônia: Do discurso à práxis-2ª ed-São Paulo:Editora da Usp,2004.
Post de Ezequiel Silva
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